segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Serenidade

Dentro daquela sala, encontrava-se sozinha. Silêncio, serenidade, tudo o que fosse calmo poderia estar ali. A chuva a bater nos vidros da sala faziam com que a sua alma fosse tão calma, tão espirituosa que era como se não transportasse o peso das suas memórias mais tristes e escuras do passado. Sentia-se como algo leve.... Sentia-se como uma pétala de uma rosa por cima das teclas de um piano abandonado, onde o vento deixava ela fluir entre elas, deixava-a deslizar. Perdida naquela sala, sofria de amores, amores não correspondidos. Os amores não correspondidos são como uma chamada anónima: quem liga, não responde e se responder, não responde nada de especial.
Sentou-se no banco do piano, coberto de um ligeiro pó fino e percorreu o dedo indicador pelas teclas brancas e pretas. À medida que isso ia acontecendo, ia juntando outro e outro dedo e tocava uma pequena sinfonia. Uma sinfonia conhecida. Beethoven, quase de certeza. Não conhecia quem tocava, apenas se lembrava que sua mãe a tocava, todas as noites para ela. Lembra-se da mãe dizer "Moonlight" enquanto tocava.  Não era calma, mas aquele momento era irónico, sarcástico. Era uma ironia amarga que a fazia reviver os momentos mais insultuosos e presto agitato da vida dela.
Enquanto tocava, as lágrimas escorregavam-lhe pela cara. Sentia-se sozinha e a melodia que saía das teclas não conseguiam preencher totalmente o vazio onde ela se encontravam. Nem chegava a ser metade, o que elas preenchiam. Ela não se conseguia ver mais aos espelho nem conseguia ver mais as suas lágrimas caírem sobre as teclas do piano. Não conseguia aceitar o facto de existir naquela sala. Não conseguia perdoar o facto de ser inútil na vida. Sabia que não poderia ser sempre assim. Então levantou-se do banco e caminhou para junto das janelas. Olhou a Lua, quase toda coberta pela imensidão das nuvens carregadas de chuva. Olhou para as gotas que escorregavam pelo vidro. Deu um murro no vidro e vários ficaram espetados na sua mão. Pegou num grande e observei-o. Era reluzente à luz do luar. "Ficará ainda mais colocado no meu corpo". De seguida, ela apontou-o junto ao seu coração e disse em voz alta: Vou ter contigo, mãe.
Espetou o vidro no coração, e caiu para o chão, onde escorregou o seu sangue. O sangue era vermelho vivo, vivo de paixão. Era vivo porque nunca tinha sido amada. Era doce e vivo. Ninguém a amara e isso fez com que se suicidá-se. Era agora uma suicida.
O sangue foi percorrendo o chão cada vez mais. O vento entrou pelo buraco do vidro e fez deslizar seus cabelos. Suicida, querida suicida. Porque te suicidaste? Eras nova e frágil, nunca foste amada. Mas tinhas a vida pela frente murmurou o vento nos seus ouvidos, Oh suicida que grande erro o teu.

Resolvi voltar andar de um lado para o outro. Irei agora, postar todos os posts que fizer no meu blog da sapo: http://flavorsandsensations.blogs.sapo.pt . Espero que gostem :)